23 de janeiro de 2009

Uma lição de vida...

Uma lição a aprender
Léo era um sujeito grandão, um tanto atrapalhado, que vestia sempre roupas remendadas e muito pequenas para o seu tamanho. Diversos colegas divertiam-se muito pregando-lhe peças.
Um dia um colega notou um pequeno rasgão na manga de sua camisa e deu-lhe um puxão, aumentando o rasgado. Outro colega da fábrica deu sua contribuição, e outro, e logo havia um pedaço da manga rasgada, pendurado. Léo continuou o seu trabalho e, ao passar muito perto de uma correia em movimento, ficou com o pedaço rasgado preso na correia, tendo o braço puxado para dentro da máquina. Alarmes soaram, interruptores foram accionados, e um acidente mais sério foi evitado.
O chefe do sector, entretanto, ciente do que tinha acontecido, chamou o seu pessoal e contou a seguinte história.
Quando era mais jovem, trabalhei em uma pequena fábrica. Foi lá que fiquei conhecendo Miguel.
Miguel era um sujeito grande, brincalhão, que gostava de fazer brincadeira com os outros, pregar pequenas peças. Ele era o líder da turma.
Havia também o Pedro, um seguidor, que sempre participava das brincadeiras do Miguel.
E havia também o Jaques. Ele era um pouco mais velho que o resto do grupo, quieto, inofensivo, à parte. Ele sempre comia o seu lanche sozinho, num canto. Por três anos seguidos, ele vestia sempre a mesma roupa remendada. Ele nunca participava dos jogos que jogávamos no horário do almoço, parecia indiferente, e sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore.
Jaques era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E ele sempre aceitava isso com bom humor.
Num fim-de-semana de Outono, Miguel resolveu ir caçar. Pedro foi com ele, é claro. E eles prometeram para todos que, se caçassem alguma coisa, iriam trazer um pedaço para cada um de nós. Assim, nós ficamos todos muito animados e ansiosos quando soubemos que tinham retornado e que Miguel havia caçado um antílope grande e gordo. Ficamos sabendo mais que isso, pois Pedro nunca conseguia guardar um segredo apenas para si mesmo, e deixou transpirar que tinham preparado uma boa peça para aplicar no Jaques.
Miguel tinha dividido o antílope em pedaços e feito um pacote com uma boa porção para cada um de nós. E, para uma boa gargalhada, a peça era que ele havia separado as orelhas, o rabo e os cascos num pacote -- ia ser muito engraçado quando Jaques desembrulhasse aquele presente.
Miguel distribuiu os pacotes no horário do almoço. Cada um de nós ia abrindo o seu pacote, que continha uma bela porção de carne de antílope, e dizia obrigado. O maior pacote de todos ele deixou por último. Era para o Jaques. Pedro estava quase explodindo de vontade de rir, e Miguel exibia um ar de satisfação.
Como sempre, Jaques estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Miguel empurrou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa. Jaques não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que você nem percebia quando ele estava por perto. Em três anos ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
Ele pegou o pacote firme nas mãos e levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.
"Eu sabia que você não ia se esquecer de mim", disse com a voz embargada, "Eu sabia, você é grandão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração." Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós. "Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem, eu tenho nove filhos em casa, e uma esposa inválida, presa na cama já fazem quatro anos. E sei que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.
Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto...Bem, eu acho que tenho ficado um pouco envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, havia talvez apenas uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saiba que essa carne representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, por que hoje à noite os meus filhos....", ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos "hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente..." e ele começou a abrir o pacote...
Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Jaques, enquanto ele falava, que nem tínhamos notado a reacção do Miguel e do Pedro. Mas agora, todos percebemos quando os dois saltaram e tentaram pegar o pacote das mãos do Jaques. Mas, tarde demais. Jaques já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada casco, cada orelha, levantando o rabo do antílope.
Deveria ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Ninguém mesmo. E a pior parte foi quando Jaques, tentando sorrir, disse: "Obrigado."
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas, pegou o seu pacote e colocou na frente do Jaques, pois eles haviam, de repente, compreendido quão pouco o presente significava para eles... até aquele momento...
Esse foi o ponto onde o chefe de secção parou sua história e se afastou. Ele não precisou dizer mais nada, e foi gratificante notar que cada colega, naquele dia, enquanto almoçava, compartilhou parte da sua comida com o Léo, e um deles chegou mesmo a tirar a sua camisa e dá-la de presente para ele.

O apego

A canoa e o apego
Nasrudin estava na margem de um rio e queria passar para o outro lado. A correnteza era muito forte e seria impossível atravessá-lo a nado.
Foi quando Nasrudin viu uma pequena canoa presa na vegetação ribeirinha. Rapidamente colocou o bote na água e pôs-se a remar para o outro lado. Com a ajuda da canoa, ele rapidamente atingiu a outra margem. Assim que botou os pés em terra firme, pegou a canoa, colocou-a nas costas e partiu em direcção à floresta.
Algumas pessoas que haviam observado toda a cena, ficaram espantados com aquela atitude inesperada de Nasrudin. Eles foram e lhe perguntaram: "Por que você colocou a canoa nas costas? De que ela lhe servirá agora que você já atravessou o rio?"
Nasrudin então, já um vermelho, suado e cansado do esforço em carregar a embarcação nas costas, lhes respondeu: "Essa canoa me ajudou muito a atravessar o rio. Eu não posso abandoná-la. Espero que agora ela me ajude também a atravessar a floresta."
Assim somos nós. Ficamos apegados ao passado e o transformamos em um pesado fardo em nossas vidas.

Cuidado com o que diz, age e pensa

Escola das fadas
Era uma vez, há muitos e muitos anos, uma escola de fadas. Conta-se que naquele tempo, antes de se tornarem fadas de verdade, as fadinhas passavam por um estágio.
Durante um certo período, elas saíam em duplas para fazer o bem e no final de cada dia apresentavam à fada mestre, um relatório das boas acções praticadas. Aconteceu então, um dia, que duas fadinhas estagiárias, depois de vagarem exaustivamente por todos os cantos, regressavam frustradas por não terem podido praticar nenhum tipo de salvamento sequer. Parece que naquele dia, bruxas e dragões, estavam todos de folga. Enquanto voltavam tristes, as duas se depararam com dois lavradores que seguiam por uma trilha. Neste momento, uma delas, dando um grito de alegria, disse para a outra.
- Tive uma ideia! Que tal darmos o poder a estes dois lavradores por quinze minutos para ver o que eles fariam?
A outra respondeu:
- Você ficou maluca? A fada mestra não vai gostar nada disto!
A primeira retrucou:
- Que nada, acho que ela até vai gostar! Vamos fazer isto e depois contaremos para ela.
E assim fizeram. Tocaram suas varinhas invisíveis na cabeça dos dois e se puseram a observá-los. Poucos passos adiante eles se separaram e seguiram por caminhos diferentes. Um deles, após alguns passos depois de terem se separado, viu um bando de pássaros voando em direcção à sua lavoura, e passando a mão na testa suada disse:
- Por favor meus passarinhos, não comam toda a minha plantação. Eu preciso que esta lavoura cresça e produza, pois é daí que tiro o meu sustento.
Naquele momento, ele viu espantado a lavoura crescer e ficar pronta para ser colhida em questão de segundos. Assustado, ele esfregou os olhos e pensou:
- Devo estar cansado - e acelerou o passo.
Aconteceu que logo adiante ele caiu ao tropeçar em um pequeno porco que havia fugido do chiqueiro. Mais uma vez, esfregando a testa ele disse:
- Você fugiu de novo meu porquinho! Mas, a culpa é minha, eu ainda vou construir um chiqueiro decente para você.
Mais uma vez espantado, ele viu o chiqueiro se transformar num local limpo e acolhedor, todo azulejado, com água corrente e o porquinho já instalado no seu compartimento. Esfregou novamente os olhos e apressando ainda mais o passo disse mentalmente:
- Estou muito cansado! Neste momento ele chegou em casa e, ao abrir porta, a tranca que estava pendurada caiu sobre sua cabeça. Ele então tirou o chapéu, e esfregando a cabeça disse:
- De novo, e o pior é que eu não aprendo. Também, não tem me sobrado tempo. Mas ainda hei de ter dinheiro para construir uma grande casa em dar um pouco mais de conforto para minha mulher.
Naquele exacto momento aconteceu o milagre. Aquela humilde casinha foi se transformando numa verdadeira mansão diante dos seus olhos. Assustadíssimo, e sem nada entender, convicto de que era tudo decorrente do cansaço, ele se jogou numa enorme poltrona que estava na sua frente e, em segundos, estava dormindo profundamente. Não houve tempo sequer para que ele tivesse algum sonho. Minutos depois ele foi despertado pelos gritos do amigo que dizia desesperado:
- Socorro compadre! Me ajude! Eu estou perdido!
Ainda atordoado, sem entender muito o que estava acontecendo, ele se levantou correndo. Tinha na mente, imagens muito fortes de algo que ele não entendia bem, mas parecia um sonho. Quando ele chegou na porta, encontrou o amigo em prantos. Ele se lembrava que poucos minutos antes eles se despediram no caminho e estava tudo bem. Então perguntando o que havia se passado ele ouviu a seguinte história:
- Compadre nós nos despedimos no caminho e eu segui para minha casa, acontece que poucos passos adiante, eu vi um bando de pássaros voando em direcção à minha lavoura. Este fato me deixou revoltado e eu gritei:
- Vocês de novo, atacando a minha lavoura, tomara que seque tudo e vocês morram de fome! Naquele exacto momento, eu vi a lavoura secar e todos os pássaros morrerem diante dos meus olhos! Pensei comigo, devo estar cansado, e apressei o passo. Andei um pouco mais e cai depois de tropeçar no meu porco que havia fugido do chiqueiro. Fiquei muito bravo e gritei mais uma vez:
- Você fugiu de novo? Por que não morre logo e pára de me dar trabalho?
Compadre, não é que o porco morreu ali mesmo, na minha frente. Acreditando estar vendo coisas, andei mais depressa, e ao entrar em casa, me caiu na cabeça a tranca da porta. Naquele momento, como eu já estava mesmo era com raiva, gritei novamente: - Esta casa... Caindo aos pedaços, por que não pega fogo logo e acaba com isto?... Para surpresa minha compadre, naquele exacto momento a minha casa pegou fogo, e tudo foi tão rápido que eu nada pude fazer! Mas... compadre, o que aconteceu com a sua casa?... De onde veio esta mansão?
Depois de tudo observarem, as duas fadinhas foram correndo muito assustadas contar para a fada mestra o que havia se passado. Estavam muito apreensivas quanto ao tipo de reacção que a fada mestra teria. Mas tiveram uma grande surpresa. A fada mestra ouviu com muita atenção o relato, parabenizou as duas pela ideia brilhante que haviam tido, e resolveu decretar que a partir daquele momento, todo ser humano teria 15 minutos de poder ao longo da vida. Só que, ninguém jamais saberia quando estes 15 minutos de poder estariam acontecendo.
Muito cuidado com tudo o que diz, age e pensa.

Crises

Mestre Ramesh (crises)

Certa vez, perguntei para o Ramesh, um de meus mestres na Índia:
- Por que existem pessoas que saem facilmente dos problemas mais complicados, enquanto outras sofrem por problemas muito pequenos, morrem afogadas num copo de água?
Ele simplesmente sorriu e contou-me uma história:
Era uma vez um sujeito que viveu amorosamente toda a sua vida. Quando morreu, todo mundo lhe falou para ir ao céu, um homem tão bondoso quanto ele somente poderia ir para o Paraíso. Ir para o céu não era tão importante para aquele homem, mas mesmo assim ele foi até lá.
Naquela época, o céu não havia ainda passado por um programa de qualidade total. A recepção não funcionava muito bem. A moça que o recebeu deu uma olhada rápida nas fichas em cima do balcão e, como não viu o nome dele na lista, orientou-lhe para ir ao Inferno.
E no Inferno, você sabe como é. Ninguém exige crachá nem convite, qualquer um que chega é convidado a entrar. O sujeito entrou lá e foi ficando. Alguns dias depois, Lúcifer chegou furioso às portas do Paraíso para tomar satisfações com São Pedro:
- "Você é um canalha! Nunca imaginei que fosse capaz de uma baixaria como essa. Isso que você está fazendo é puro terrorismo!"
Sem saber o motivo de tanta raiva, São Pedro perguntou, surpreso, do que se tratava. Lúcifer, transtornado, desabafou:
- "Você mandou aquele sujeito para o Inferno e ele está fazendo a maior bagunça lá. Ele chegou escutando as pessoas, olhando-as nos olhos, conversando com elas. Agora, está todo mundo dialogando, se abraçando, se beijando. O inferno está insuportável, parece o Paraíso!" E fez um apelo:
- "Pedro, por favor, pegue aquele sujeito e leve-o de lá!"

Quando Ramesh terminou de contar essa história, olhou-me carinhosamente e disse:
- "Viva com tanto amor no coração que se, por engano, você for parar no Inferno o próprio demónio o trará de volta ao Paraíso."
Problemas fazem parte da nossa vida, porém não deixe que eles o transformem numa pessoa amargurada. As crises vão estar sempre se sucedendo e às vezes você não terá escolha. Sua vida está sensacional e de repente você pode descobrir que sua mãe está doente; que a política económica do governo mudou e que infinitas possibilidades de encrencas aparecem.
As crises você não pode escolher, mas pode escolher a maneira como enfrentá-las. E, no final, quando os problemas forem resolvidos, mais do que sentir orgulho por ter encontrado as soluções, você terá orgulho de si mesmo.